Saturday 31 July 2010

Uma noite normal em Belgrado


Saímos de casa pouco antes das 22h pra ir ao bar Brod, no Bulevar 29 Novembra, bem perto do meu apê. Eu havia marcado de encontrar um amigo croata de origem sérvia lá, o Neven, e com o Nikola, um DJ daqui de Belgrado que toca em algumas noites nesse bar. Quando chegamos ao Brod encontramos com eles 2 e também com o Djordje, amigo do Neven e também croata de origem sérvia. Ficamos ali bebendo cerveja e spritzer, entre conversas mil e rodadas no fliperama do Indiana Jones. 
Por volta de meia noite nos despedimos do Nikola e decidimos ir dali pra algum outro lugar, preferencialmente com música ao vivo - queríamos ir a uma kafana. Pra nossa felicidade, o Neven e o Djordje nos deram a sugestão que queríamos ouvir: "que tal irmos ao Blek Panters?"

O Blek Panters, ahh, o Blek Panters... A 1a. e única vez que estive lá foi em outubro de 2008, com a Valerie e umas amigas sérvias e aquela foi, de longe, uma das noites mais divertidas que já tive em Belgrado. O Blek Panters é um dos zilhões de splavs (bar/club flutuante) que margeiam os rios aqui de Belgrado. É conhecido como um dos melhores - senão o melhor! - lugar de Belgrado pra se ouvir música ao vivo cigana (tocada pela banda homonima ao bar).

Pois bem: nos dividimos entre o carro do Neven e do Djordje e seguimos rumo ao Blek Panters. Assim que entramos no splav - que por sorte não estava muito cheio, pois era quarta feira - fomos colocados em uma ótima mesa, bem ao lado da banda, que tocava hits daqui: kolos mil, música de kafana, clássicos ciganos e, é claro, os hits da própria banda, como a Kakvu zenu imam (que eu inclusive toco em todas as edições da Go East). Estávamos eufóricos com toda aquela música, as pessoas dançando loucamente pelo restaurante todo, convidando a gente pra dançar também, brindando e etc. A música era tão contagiante que em um determinado momento dançamos kolo com um cara que nunca tínhamos visto na vida, enquanto esperávamos na fila do toalete!
Emocionante demais estar ali com a Sol, Chica e Andrei, sentados ao lado do Toma (cantor, líder da banda e nosso ídolo!), com a taça sempre cheia de spritzer, dançando e cantando - foi um momento incrível! 
A nosso pedido, o Neven comentou com o Toma que éramos do Brasil e adorávamos muito a música da banda dele. O Toma abriu um sorrizão, veio nos abraçar e dizer que ama o Brasil, dançou conosco, tirou fotos e etc. Um amigo dele (por acaso o cara que dançou kolo com a gente no banheiro) logo chegou perto e começou a dançar também, quis me dar o relógio dele, abraçou todo mundo e etc. Estava torto horrores, muita Jelen Pivo na cabeça.

Lá pras 3 e pouco da manhã a banda parou de tocar e o bar encerrou as atividades. Enquanto o povo se levantava e deixava o splav ficamos conversando com o pessoal da banda e acabamos recebendo um convite inusitado: o cara que quis me dar o relógio convidou todos nós pra irmos dar uma esticada na kafana que ele tem no bairro de Kosutnjak, chamada "Kafanica"(lê-se kafanítsa, que significa "kafaninha"). Ficamos meio sem jeito de aceitar o convite, mas ele insistia muito: disse que seria uma honra cozinhar pra nós algumas especialidades sérvias. Acabamos aceitando o convite e mais uma vez nos dividimos em carros diferentes, dessa vez rumo a Kosutnjak.

Quando entramos e nos sentamos na Kafanica é que a ficha caiu:  o cara que nos convidou estava abrindo a kafana dele no meio da noite exclusivamente pra nós! A decoração do lugar era linda: arte naïf por todo lado, móveis de madeira rústica, coisinhas étnicas, mil detalhes nas paredes e até mesmo galos e galinhas andando pela kafana. Quando o dono do local colocou a trilha sonora do filme "A Vida é um Milagre" pra tocar, o quadro estava pintado: era como se estivéssemos mesmo dentro de um filme do Kusturica!
Mal deu 5 minutos de que havíamos chegado e sentado, a comilança começou: além da bandeja com dezenas de copos de cerveja ultra gelada, nos trouxeram uma super tábua de frios e antepastos típicos daqui, como salame, bacon, ajvar, (uma pasta feita de pimentão e berinjela) e pães quentinhos, recém saídos do forno. 10 minutos mais tarde chegaram 2 pratos enoooormes de linguiça caseira e carne de vitela feita no gril. Um banquete divino, as 4 e meia da manhã!!
Conversávamos e ríamos muito, e a cerveja não parava de vir: eram tantos copos que não havia mais espaço na mesa!
Ganhamos vários brindes: quadros de art Näif daqui (feitos pela artista que fez todas as pinturas do vilarejo étnico do Kusturica), CDs de kolo e quase ganhamos galinhas também - não fossem nossos apelos dramáticos, o dono da Kafanica tinha abatido uns frangos pra nós ali mesmo, com a pistola antiga que ele guardava em cima de uma estante que decorava o restaurante.

As 5 e meia da manhã (dia claro aqui já), pegamos os carros novamente: muito embora a gente já não aguentasse nem ouvir falar em comida aquela altura do campeonato, agora o dono da Kafanica queria muito nos pagar uma rodada de burek no que ele disse ser um dos melhores bureks de Belgrado. Por coincidência, a burekeria na qual queriam nos levar era nada menos do que a Sarajevo, que fica exatamente em frente ao nosso apê.

Quase morremos tentando comer burek, pra não fazer desfeita. Acabamos levando quase 1 kg de burek pra casa, também por insistência do nosso host empolgado. E apesar dos protestos por parte dele - que ainda queria nos levar pra uma volta de barco pelo rio Sava - a noite acabou ali. Precisávamos desesperadamente dormir e absorver tudo que tínhamos vivido naquela noite totalmente surreal, mas típicamente sérvia.

É por essas (e muuuuitas outras) que amo tanto isso aqui <3

2 comments:

best pharmacy said...

um DJ daqui de Belgrado que toca em algumas noites nesse bar. Quando chegamos ao Brod encontramos com eles 2 e também com o Djordje, amigo do Neven e também croata de origem sérvia. Ficamos ali bebendo cerveja e spritzer, entre conversas mil e rodadas no fliperama do Indiana Jones.

Viajante e curioso said...

que foda! to indo pra lá amanhã \o/